Rita Sá Alves volta a escrever para o Artéria, desta feira sobre as histórias (de amor) que se colam a nós quando apanhamos o autocarro, o eléctrico ou o metro.
Vale a pena andar nos transportes públicos em Lisboa.
Por vezes fila, por vezes apertados, mas nem sempre.
Rápidos, principalmente o metro e com bancos confortáveis e ar condicionado.
É bom irmos a ver Lisboa pela janela do autocarro ou do eléctrico. Olharmos as pessoas novas, as pessoas menos novas, umas perfumadas outras nem tanto. Os vários estilos dos habitantes da capital e dos seus visitantes. Cortes de cabelo, roupas, sapatos, óculos escuros e óculos de ver.
Cada qual com o seu gosto e à sua maneira, ajuda a enfeitar as ruas desta linda e luminosa cidade.
Nos transportes públicos de manhã, é ver as caras ensonadas mas lavadas e as vestimentas impecáveis, tudo com a esperança que o dia corra melhor do que o anterior.
Sabe bem, sair do autocarro e do metro e tomar na pastelaria mais próxima da paragem aquele café cheio ou pingado, antes de começar a trabalhar.
Vale a pena assistir ao romance. No autocarro, no metro.
No autocarro 711, soube pelo meu filho, que deixou o instagram para seguir a história de uma senhora que falava ao telemóvel com uma amiga, sobre a sua paixão pelo Alexandre.
O Alexandre, achava ela, o Alexandre gostava dela, e ela só pensava no Alexandre. Até já pintava os lábios, não fosse ele aparecer.
Esta conversa todas as manhãs e o meu filho deliciado a ouvir.
Até que um dia a senhora apareceu de lábios pintados no autocarro com o Alexandre e beijaram-se muito.
Já o romance a que assisti ficou suspenso e nunca soube o final da história. Um dia no metro, que é um maravilhoso transporte para andar em Lisboa, na linha azul, que é também uma bela linha para ouvir casos de amor, assisti ao telefonema de uma rapariga nova que falava muito ansiosa sobre a sua paixão. Dizia à tia, que descobriu que o rapaz de quem gostava estava para se casar. E que tinha ido ter com ele fazendo-lhe um ultimato, ou desfazia o casamento, ou a perdia de vez.
De repente, a paragem Praça de Espanha chega, a porta abre-se a rapariga sai e eu fico sem saber o final. Ainda hoje, tenho esperança de ver pelo metro a rapariga de mãos dadas com o ex-noivo.
Carreiras boas para ouvir histórias de amor: 711, 758, 716, eléctrico 15 E.
Linhas do metro: Linha azul e linha amarela.
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