O mundo mudou muito, Lisboa também. Não nos compete a nós concluir se a cidade está melhor ou pior, afirmar “agora é que é” ou “antigamente é que era”, até porque todos os tempos têm os seus defeitos e virtudes, mas estamos disponíveis para que os nossos colaboradores nos dêem a sua perspectiva. Neste caso, uma colaboradora, Rita Sá Alves, ela que é administrativa num hospital da capital e teve a iniciativa de escrever para o Artéria sobre o bairro de Benfica, de que tanto gosta. Uma Lisboa que, segundo a própria, continua a ser… Lisboa.
Tanto se fala e com razão de uma descaracterização dos sítios históricos de Lisboa, onde por vezes nem um português se vê, nem uma palavra lusitana se ouve. Mas existe uma zona na nossa capital que continua Lisboa. Benfica!
Faço questão de me levantar relativamente cedo aos Sábados. Saio de casa, tomo café numa pastelaria que muito gosto, a pastelaria Scala, na Venda Nova, e atravesso a fronteira da Amadora para Lisboa, para o bairro de Benfica.
Aos primeiros passos começo a ver senhoras e senhores com os carrinhos de compras cheios de legumes, peixes e frutas, gente nova, de meia idade e idosos a caminharem calmamente para suas casas ou para alguma pastelaria das boas, das pastelarias com histórias de vidas, com fabrico próprio e cheias de gente alegre logo pelo fresco da manhã. Vêm do maravilhoso e tradicional Mercado de Benfica.
Um mercado sempre colorido, cheio de gente, com produtos frescos e muita escolha. Saio do mercado e passo pelas ruas que ainda têm à janela senhoras olhando quem passa, rapazes passeando os animais de estimação, pessoas a sair da missa das dez, bem arranjadas e luminosas, igreja que por trás ainda tem casas do tempo de antigamente, um bocadinho de Benfica antiga, como conta António Lobo Antunes nas suas maravilhosas crónicas sobre o bairro e as suas gentes, passo à porta dos externatos e das escolas que aos dias de semana são um turbilhão de gente nova e animada.
Vou, mais uma vez, tomar o meu descafeinado, a duas outras pastelarias onde também me sinto bem. A pastelaria Monalisa perto do mercado e a pastelaria Nilo, em frente à igreja. Bolos frescos maravilhosos, salgados sempre quentinhos, bom café, e os lisboetas com os seus filhos, os seus netos, as suas mulheres, os seus maridos ou sozinhos a ler o jornal, como eu.
Existe outro sítio espectacular, verde, cheio de ar puro e belo. A Mata de Benfica. Um bom sítio para arejar e relaxar.
Por fim apanho o autocarro, já não vou a pé, até às portas de Benfica. Já vou com as frutas, os peixes e os bolos, o jornal lido e uma energia especial, pois estive na Lisboa de que tantas saudades temos.
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