Rita Sá Alves escreve sobre o carrocho quente (cachorro simples talvez seja mais correcto) essa especialidade em vias de extinção. Um tema que é também uma boa ‘desculpa’ para fazer uma viagem no tempo por Lisboa.
Mas o que é que é feito do cachorro simples? Aquele que nos leva à nossa infância e adolescência. Que comíamos com os avós no café em frente à escola, com os colegas depois das aulas, acompanhado por um capilé ou uma groselha?
Há, por Lisboa, ainda alguns cafés que o fazem.
Lá para os lados da Praça do Chile existe um café simples, asseado e silencioso, onde se come um belíssimo cachorro.
Não leva molhos nem batatas, nem cebola nem tomate. Dá perfeitamente para se dar uma trinca certeira, sem sujar o blazer.
Tem simplesmente o pão, carcaça ou bola, um pouco torrado, com pouca manteiga e duas salsichas de lata fervidas. Podemos pedir a mostarda, que fica ainda melhor. Acompanhamos com um sumol de ananás em garrafa de vidro e ficamos felizes, sempre com vontade de voltar.
O preço fica bastante em conta, e assim podemos pedir dois!
O Sr. Constantino e o sr. João Manuel, que estão na casa desde 1992, apesar de a pastelaria existir desde 1943, têm uma simpatia calma, que nos deixa à vontade como se na nossa sala de estar estivéssemos.
Na zona da Praça do Chile, nos anos oitenta, era um corrupio de gente. Havia retrosarias, lojas de móveis, antiquários, padarias, cabeleireiros nos primeiros andares, drogarias, lojas de lãs, mercearias, ainda as leitarias, pastelarias e lojas de roupas.
O hospital de Arroios ainda funcionava, hospital este, onde o meu avô médico, começou a sua vida profissional.
Ainda havia o cinema Paté, onde tantas vezes fui com as minhas vizinhas, e lembro-me de estar sempre muita gente jovem e alegre, assim como o cinema grandioso Império, onde vi o Super Homem e a Guerra das Estrelas.
Ainda me lembro de ir com a minha avó de manhã às compras e ir de tarde ter com o meu avô, que lia sempre o seu jornal A Capital, numa leitaria no cimo da Rua Morais Soares.
Assim começou o meu gosto pelo jornal, pelas notícias e pelo papel.
Ando há uns meses a pensar ir à Rua Heróis de Quionga, rua que tem um agradável restaurante, que também é churrascaria, daquelas que vende as “batatas fritas verdadeiras”, ou seja, não são de pacote, são fritas na fritadeira, tal como a churrascaria Primavera, que tem frango no espeto e no Churrasco e as tais batatas.
Mas com ia a dizer, quero ir à rua Heróis de Quionga, visitar o prédio, se ainda existir, que Fernando Namora fala no livro “Retalhos da vida de um médico” segundo volume, depois conto-vos.
Ah! A pastelaria do cachorro! Chama-se Pastelaria Joia do Chile e fica no número 161.
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