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O jazz em Portugal é minoritário. Quase clandestino… pouco ou nada divulgado. Procuro evitar a expressão “elitista”, dado que se trata de música popular, como se sabe.
O Hot Clube foi fundado em 1948 pelo Luíz Villas-Boas, que, juntamente com alguns amigos e (raros) apreciadores deste tipo de música, se reuniam em casa de um deles a ouvi-la em gravações muito pouco conhecidas, num tempo em que o jazz era considerado uma coisa de mau gosto e própria de negros ou de camadas mais baixas da cultura musical desse tempo.
O regime fascista da época, entre todas as conhecidas e sinistras iniquidades que se lhe conhecem, constrangia e frustrava toda e qualquer forma de arte, incluindo a Música. O Luíz Villas-Boas, que tinha entretanto um programa de rádio de divulgação de jazz, lutava por conseguir aprovar os estatutos de futuro clube que teimava em criar.
A aprovação desses estatutos e consequente realização do seu desejo foi complexa e até caricata – levou burocráticos anos de corredor em corredor, perante dúvidas e hesitações do poder. Tinha de ser um “clube recreativo” e não “educativo”.
Em Janeiro de 2023 (e pela segunda vez em alguns anos), o Hot Clube sofreu um grave revés, mais uma vez de consequências ainda desconhecidas, ao comprovar-se que o edifício onde está inserido tem problemas de estrutura, tendo sido mandado fechar por questões de segurança, pela Câmara de Lisboa.
A direcção do Clube não se tem poupado a esforços, entrando em contacto com personalidades várias da cultura e da própria Câmara, até agora sem resultados palpáveis, embora haja alguma esperança de resolução, no meio desta incerteza. No meio das incertezas em que, neste país, a cultura sempre navegou (e continua a navegar), nomeadamente em termos de música.
Uma parte dos prédios da Praça da Alegria – suponho que pertencentes à Câmara de Lisboa, incluindo o que ardeu e onde existiu durante anos a cave do Hot Clube e uma casa de fado (a Márcia Condessa) – são construções antigas, abandonadas e decrépitas. As poucas recuperações dizem respeito (como sempre) a hotéis, que ali vão sendo edificados como cogumelos.
O jazz em Portugal – e há bastantes músicos bons, hoje em dia – foi sempre incompreendido e sempre viveu momentos difíceis e, aqui para nós, as coisas não mudaram assim tanto – embora tenham mudado um pouco.
Continua, no entanto, longe, longe, muito longe, dos rocks, das músicas de intervenção e do fado, em termos de aceitação. O jazz é universal, mas difícil e há sempre um nacional-cançonetismo e um gosto mais popular.
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