O ano em que a Penha voltou a nadar

4 de Janeiro, 2023
Foram dez anos de obras, empreitadas impugnadas e desencontros vários. Mas não há mal que sempre dure: nos últimos dias de 2021, a piscina da Penha de França reabriu, para gáudio dos munícipes e especialmente da população da freguesia. 2022 marcou o reencontro com o equipamento. Hoje, um ano depois, voltou a integrar os hábitos de muitos lisboetas. Conversámos com o responsável pela gestão da piscina sobre o que lá está a acontecer e o que se prevê para o seu futuro.

Entrevista

António Chagas

Fotografias: Junta de Freguesia da Penha de França

Encerrada para obras, num processo que se arrastou durante uma década, a piscina da Penha de França retomou a sua actividade no fim de 2021. Neste ano que entretanto passou, a comunidade redescobriu o equipamento, onde se dão aulas de natação e se permite a utilização para fins desportivos e recreativos. A gestão das instalações deste equipamento municipal, a cargo da Junta de Freguesia da Penha de França, tem organizado alguns eventos interessantes, como sessões abertas de hidroginástica ou natação para bebés com um acompanhamento de piano.

A população aderiu imediatamente, e o tempo em que a piscina esteve encerrada ficou definitivamente para trás. Hoje, todos os dias, há aulas de hidroginástica, muito frequentadas pelos cidadãos mais idosos, mas também aulas de natação para vários níveis de experiência, para as quais existe muita procura. Falámos com João Valente, o Chefe da Divisão da Educação, Desporto, Acção Social e Saúde da Junta de Freguesia da Penha de França, sobre algumas das características deste equipamento e da sua importância para a freguesia e a cidade.

Que balanço faz deste ano?

– O balanço é muito positivo, já que não tínhamos quaisquer expectativas quando abrimos. Depois de dez anos fechados, não sabíamos que procura é que existiria. Mas a receptividade foi excelente, a procura foi muito para lá do que era expectável.

– Quais são os principais serviços prestados por este equipamento e a quem se destinam?

– A piscina, sendo um equipamento da Câmara Municipal, é da cidade e destina-se a todas as pessoas da cidade, e não só. Temos aqui uma percentagem considerável de estrangeiros, uns a residir na cidade, outros só de passagem, por exemplo em Erasmus. Obviamente, os fregueses da Penha de França beneficiam de duas coisas: uma, a proximidade, porque podem vir a pé; outra, é beneficiarem de um pequeno desconto que fazemos aos recenseados na freguesia. Mas é só isso: a piscina da Penha de França é da cidade de Lisboa; o edifício é da Câmara e é gerido pela Junta de Freguesia.

Temos todo o interesse também em estabelecer protocolos, como é o caso da Escola Nuno Gonçalves, que pertence à freguesia, mas também já tivemos aqui no Verão o colégio do Sagrado Coração de Jesus, que pertence à freguesia de Arroios. Também recebemos instituições sem fins lucrativos de Marvila, do Beato, enfim, o equipamento serve a cidade de Lisboa e também todas as escolas e instituições de solidariedade social que pretendam utilizar a piscina.

– De que forma se compara este equipamento desportivo com outros equipamentos públicos disponíveis na freguesia?

– Não tem comparação possível. Em termos desportivos, a freguesia dispõe de alguns polidesportivos ao ar livre, de um espaço multiusos e de um pavilhão municipal que está a ser gerido pelo Varejense, mas a piscina pode ser considerada como o equipamento-âncora, o equipamento central na freguesia da Penha de França, também pela sua história, já que nesta piscina aprenderam a nadar muitos milhares de pessoas. Além disso, é um equipamento acarinhado, que as pessoas mais antigas da freguesia encaram como sendo “delas”.

– Que características tem esta piscina?

– É uma piscina de 25 metros de comprimento por 12 metros e meio de largura. Quando foi construída, na década de 1960, tinha uma configuração diferente: em metade da piscina, não havia pé. Nós acabámos com isso, até para podermos rentabilizar a piscina toda: agora, toda a piscina tem pé, para que todos possam nadar, independentemente de serem experientes ou de terem medo da água. A piscina tem uma característica especial, que é o facto de não ter tanque de aprendizagem; isto para nós constitui um problema de gestão, porque, ao contrário do que acontece noutras piscinas do município, as aulas de aprendizagem têm de ser dadas na cuba central, com tudo o que isso implica em termos de aquecimento da água.

As demais piscinas do município, construídas mais recentemente, além de disporem de um tanque de aprendizagem, são também mais largas, com 20 metros em vez de 12 metros e meio, o que dá para ter 10 pistas e, consequentemente, muito mais pessoas. Mesmo assim, estamos a ter um rácio interessantíssimo em termos de horas de ocupação e de pessoas a frequentar a piscina.

– Como está a ser gerida a procura pelos serviços da piscina?

– Com muita dificuldade, porque existe uma procura muito grande por determinados horários, nomeadamente ao início e ao fim do dia. Nesses horários, temos uma lista de espera. Mas aqui na piscina temos um detalhe que a distingue das outras piscinas do município, que é termos sempre pistas para natação livre, desde que abre até que fecha, ao contrário das outras piscinas, que têm horários para a natação livre.

Assim, qualquer pessoa pode chegar e fazer natação, desde que as pistas não estejam cheias, o que acontece raramente. Nesses casos, a pessoa espera um pouco até que a pista tenha capacidade. Também temos protocolos com colégios e estabelecemos um protocolo com a Direcção Nacional da PSP, para permitir a utilização da piscina pelos agentes.

– Existem em Lisboa 10 piscinas para 24 freguesias. Prevê-se que esta rede venha a crescer? Lisboa poderá contar com mais piscinas no futuro?

– Isso dependerá da Câmara, já que nenhuma Junta de Freguesia tem dinheiro para fazer uma piscina. Construir um equipamento destes custa à volta de quatro milhões de euros, mas depois é preciso pensarmos na sua exploração e manutenção. Em termos de consumos de energia, gás e água, um equipamento como este gasta perto de quinhentos mil euros por ano, além de ser necessário prever uma equipa para a sua manutenção e gestão e para a vertente pedagógica.

Que planos existem para o futuro da piscina da Penha de França?

Espero que, para os próximos anos, esta piscina mantenha o mesmo nível que tem tido até agora, a nível da higienização da piscina, do tratamento da água, da qualidade da equipa pedagógica e da equipa administrativa, e que este equipamento continue a ser de excelência e ensine muitas crianças a nadar, que traga aqui também muitos adultos a passarem um bocado para desanuviarem do dia-a-dia. A vida actual não é fácil, estamos a passar momentos complicados, com a guerra, a inflação, e a piscina ajuda de uma forma indirecta, ao proporcionar tranquilidade aos seus utentes. O que queremos, no futuro, é que as pessoas continuem a dizer que aprenderam a nadar na piscina da Penha de França.

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