A luz de Lisboa

Autor

Carlos Reis
9 de Novembro, 2022
A alma de um lugar é feita de um muito heterogéneo conjunto de características, umas mais tangíveis do que outras. É da sua simbiose que se entretece o carácter desse território. Que será mais merecedor da nossa atenção em certos casos do que noutros, é certo. De Lisboa, para além de todos os outros predicados, é frequente falar-se da singularidade da sua luz. Atento a essa peculiariedade, o leitor Carlos Reis saiu à rua e fotografou o que, admite, até se revela em grande medida "infotografável".

Foi num dia em Milão, há muitos anos, algures no Verão. Eu e o meu irmão – há anos refugiado político e fugido da guerra das colónias – passeávamos por aquela “sua” cidade de momento, quando ele me confidenciou, com alguma nostalgia:


– Vês o céu azul de Milão, neste dia calmo de Verão, sem nuvens? É azul. Mas não é o azul de Lisboa. A poluição – já a havia, nesse tempo – desta cidade não o permite. O céu da nossa Lisboa tem uma transparência e uma textura únicas”.


É verdade. Talvez até o Tejo seja co-responsável por esse efeito cénico, por essas cores únicas ao longo do dia, quem sabe. Foi, de certo modo, ao abrigo daquela conversa que comecei a reparar e a tentar fotografar o infotografável.

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