Nenhum assunto é tão importante e atual, ou tão falado, como o aquecimento global e a crise climática. É algo comum a todas as zonas do globo. O calor excessivo que se vem fazendo sentir nas cidades, a desflorestação, a degradação dos ecossistemas, a perda de habitat. Tudo isto faz parte do mesmo ciclo de degradação e, se nada fizermos para ajudar a combater estas alterações, em breve será muito difícil, senão impossível, viver nos centros urbanos.
E se houvesse uma maneira para ajudar a inverter esta tendência e impedir que as cidades continuem a comportar-se como ilhas de calor, conseguindo também reconectar as pessoas com a natureza e umas com as outras, para além de ajudar literalmente a plantar a esperança de um futuro melhor? Foi o que descobri quando me tornei voluntária no projeto da URBEM.
A URBEM é uma organização não governamental ONG ambientalista fundada por Sasi Kandasamy, em Portugal, no início de 2021, e que luta contra a crise climática através da criação de “florestas rápidas”, aplicando o método do botânico japonês Akira Miyawaki. Este método inovador tem como objetivo fazer crescer florestas naturais em espaços relativamente pequenos, como é o caso dos parques urbanos. Um dos lemas da URBEM é: A melhor altura para plantar uma árvore foi há vinte anos atrás. A segunda melhor altura é agora.
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Plantar árvores é a solução, mas precisa de planeamento. Outro fator a ter em conta é o tempo que as árvores demoram a crescer. E tempo é algo que se está a esgotar rapidamente. Ao utilizar o método Miyawaki, conseguimos criar miniflorestas, propositadamente concebidas e bio diversificadas, que atingem a auto-sustentabilidade em apenas três anos e absorvem 265% mais carbono do que os métodos tradicionais de reflorestação. Ajudam a sustentar milhares de plantas nativas e a fornecer habitats para inúmeras espécies locais, o que faz delas um trunfo importantíssimo na luta por temperaturas mais baixas, ar mais puro e um futuro sustentável.
De forma a criar uma reconexão dos habitantes da cidade com a natureza, algo que se foi perdendo com o passar do tempo – muito em especial no último século -, o plano da URBEM pretende ainda incorporar espaços pedestres e eventos de forma a garantir que as pessoas voltem aos espaços verdes e que os utilizem e valorizem também como pólos de ligação social. Além de todos os benefícios que estas zonas verdes conseguem oferecer, seja ambientais seja para a saúde física e mental de todos, há ainda o grande potencial de poderem funcionar como centros comunitários para a educação ecológica, arte, teatro e eventos únicos.
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O coletivo de voluntários dedicados do qual faço parte inclui biólogos, engenheiros florestais, especialistas em plantas nativas e outros (muitos, muitos voluntários) que têm doado o seu tempo para conseguir que a Floresta Rápida no Parque da Bela Vista, o primeiro projeto da URBEM, se torne uma realidade. Desde a projetação cuidadosa, adequada à parcela e ao clima local, até à fase de plantação e, atualmente, mais de acompanhamento, com vista a criar um resultado sustentável, que, a longo prazo, trará benefícios não só ao ambiente, mas também à comunidade.
Com 74,5 hectares, a Bela Vista é a segunda maior área verde da cidade, a seguir ao Parque Florestal de Monsanto. O parque já possui uma grande diversidade de flora e fauna nativas, mas o projeto que tem vindo a ser desenvolvido pela URBEM vai ajudar a impulsionar esta biodiversidade criando um grande ponto de atração neste espaço urbano.
A amostragem e os testes do solo foram realizados durante a última semana de Agosto de 2021, em coordenação com a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). A fase de plantação começou em Novembro desse ano e terminou no início de Fevereiro de 2022. É a nossa primeira “floresta rápida” e está a crescer numa área inicial de 300 metros quadrados do terreno de 2500 cedido pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) no Parque da Bela Vista.
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Atualmente, estamos na fase de manutenção das plantas, com frequência semanal -quartas-feiras ao final da tarde -, removendo ervas daninhas e colocando cobertura vegetal para manter o mais possível a humidade do solo.
O trabalho no terreno – e em especial numa encosta – tem os seus desafios. É preciso desenvolvê-lo subindo e descendo. Há que carregar sacos de adubo e palhagem desde a zona de armazenamento, até ao ponto de partida mais abaixo na encosta, seguindo os caminhos que rodeiam a zona da plantação. Houve um ou outro voluntário que escorregou devido à inclinação do terreno – nem sempre temos o calçado mais adequado – , mas sem quaisquer lesões sérias e sempre acompanhado de gargalhadas.
Depois, há que pisar com cuidado, ao entrar na zona plantada, enquanto vamos distribuindo o adubo vegetal, tendo a atenção de não calcar as plantas. Todas as semanas, há ervas daninhas a remover, especialmente um tipo de cana, bastante prolífera no local e de raízes resistentes, principal concorrente aos nutrientes destinados à nossa floresta.
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O cheiro a terra húmida de Novembro passado já desapareceu. Por vezes, está ainda calor, mesmo ao final da tarde, e o que sobressai mais agora é o cheiro a terra junto com palha fermentada, enquanto aplicamos a palhagem. Mas, como a nossa “floresta rápida” é feita também de pequenos arbustos, como rosmaninho, alfazema e alecrim, há também estes perfumes inconfundíveis, quando nos aproximamos destas plantas. E alguns insetos que vão voando de flor em flor.
A cada dia que passa, sinto que a missão ambientalista da URBEM ganha mais força e visibilidade. Estamos a ajudar a criar uma mudança positiva e duradoura que faz toda a diferença para a comunidade e para o nosso planeta.
Para ler mais sobre a missão da URBEM e contribuir para a sua causa ou prestar voluntariado, consulte estes links:
Urbem – Community. Nature. Connection
Help URBEM Build Urban Mini-Forests | Indiegogo
Evento Meetup: https://www.meetup.com/pt-BR/gardening-and-social-drinks/events/287188890
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O método Miyawaki:
Identificar – estudar o local onde se pretende plantar a minifloresta e selecionar as plantas nativas que melhor se adaptam ao mesmo;
Algumas das principais plantas escolhidas para este projeto: Roselha, Estevão, Sargaço, Gilbardeira, Tojo, Alecrim, Rosmaninho, Alfazema de flôr branca, Loureiro, Medronheiro, Pereira Brava, Murta, Aroeira, Madressilva, Rosa Canina, Roseira Brava, Salsaparrilha.
Preparar – proceder à limpeza do solo, juntando nutrientes orgânicos, e à colocação de elementos que ajudem na retenção de água, como, por exemplo, as valas de infiltração vegetadas (tipo swale);
Plantar – plantar densamente – entre duas a sete plantas/pequenas árvores por metro quadrado (30 vezes mais denso do que as florestas normais);
Cuidar – regar e cuidar das plantas, protegendo-as contra pragas e ervas daninhas durante os três anos seguintes à plantação.
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Benefícios do método e da Floresta Rápida:
• Conseguir uma arborização em menor tempo e de forma prática em ambientes urbanos densos;
• Criar hotspots de biodiversidade através da plantação de micro-florestas que conectam as comunidades à natureza;
• Capturar CO2 – uma floresta Miyawaki de 300 metros quadrados completamente desenvolvida consegue compensar cerca de 71% das emissões anuais de carbono de três pessoas europeias;
• Diminuir o ruído, baixar a temperatura local e filtrar micropartículas do ar;
• Criar uma plataforma de educação para ensinar e inspirar as comunidades sobre como ter uma vida mais sustentável.
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O Artéria é um projecto de jornalismo comunitário. É feito por voluntários, supervisionados por um jornalista profissional.