A diferença que eles fazem.
Ao caminhar pelas ruas de Alvalade, não é difícil encontrar fachadas de prédios para que José Lourenço possa, por instantes, posar e assim lhe poder ser tirada uma fotografia capaz de acompanhar este texto do Artéria. O objectivo é fazê-lo em frente a um cenário exemplificativo daquilo que, por estes dias, o move: a luta contra os infindáveis e inextricáveis torvelinhos de cabos de operadoras de telecomunicações que, sobretudo nas duas últimas décadas, se foram apoderando da parte mais nobre da grande maioria dos imóveis de Lisboa. Mas também de outras cidades e vilas portuguesas. Para ajudar a consegui-lo, lançou recentemente uma petição.
Uma tarefa de proporções quixotescas, admita-se, mas José, de 52 anos, evidencia uma tranquilidade resoluta, em claro contraste com a angústia que tal caderno de encargos causaria ao mais metódico dos estrategas. “Não vou ser eu sozinho que vou mudar nada. Mas com a ajuda de pessoas como você e de outras pessoas que conhecemos, as coisas podem começar a mudar. Esta é a primeira chama, digamos assim, para despoletar um fogo maior. Pode ser que daqui nasça um outro abaixo assinado ou até uma manifestação para começar a mudar este estado de coisas”, diz, sem que a voz dê indícios de uma particular comoção em relação ao assunto. Mas esta é matéria que lhe ocupa o pensamento há pelo menos vinte anos.
“É uma luta antiga”, reconhece. Foi em 2002, quando se mudou para um prédio no mesmo bairro e se deparou com a instalação de uma cablagem por parte de uma operadora de comunicações, que começou realmente a reparar no problema da profusão desordenada de fios na fachada dos edifícios. “Sentia que às pessoas lhes fazia uma certa impressão, mas havia como que um encolher de ombros generalizado”, recorda. Apesar disso e em resultado da sua pressão, anos mais tarde, quando um novo contrato de serviço estava prestes a ser estabelecido por um novo morador do edifício, o condomínio decidiu colocar em acta, numa das suas reuniões, que a operadora deveria apresentar um projecto para intervir na fachada. A solução foi uma calha técnica contendo os cabos.
Mas o cenário em volta revelava-se desanimador. Com a entrada em cena de novos operadores de comunicações e o aumento generalizado da adesão aos serviços por eles prestados, foi-se assistindo ao crescimento desregrado das ligações pendentes nas paredes dos prédios. “Isto foi ficando caótico. Ia comentando com as pessoas que isto não faz sentido”, afirma José Lourenço, aludindo a uma indignação muito pessoal e que lhe parecia solitária. “Antigamente, havia gente que parecia incomodada e lutava contra a profusão desregrada de antenas de televisão e de parabólicas nos telhados dos prédios. Mas quando se fala dos cabos nas fachadas, parece que não se passa nada”, comenta.
Tentando colocar um travão no crescente desfear das frontarias dos prédios de Lisboa, mas não só, José Lourenço decidiu-se agora a lançar uma petição para “regular os cabos de comunicação nas nossas cidades”. Contestando a indiferença generalizada, inclusive das autoridades locais, perante o que qualifica de “uma autêntica praga visual”, o abaixo assinado apela a que se legisle para obrigar as operadoras de comunicações a agirem. De que forma? Enterrando os cabos, onde tal for possível, pintando-os com cores que os tornem menos visíveis de acordo com a cor do edifício ou, ainda, colocando a cablagem em calhas discretas. E refere ainda que as empresas devem ser obrigadas a remover os cabos sem uso, ao fim de um ano sem utilização.
Para assinar a petição: