Casa do Impacto reinventa-se como lugar de democratização da sustentabilidade

28 de Junho, 2022

Reportagem

Samuel Alemão
Após quatro anos a ser visto como local de encontro de ‘geeks’ com preocupações sociais e ambientais, o Convento de São Pedro de Alcântara ganha nova dinâmica. A ideia é que esses princípios alastrem ao resto da sociedade. E todos fiquem a ganhar.

A banalização das palavras faz com que, amiúde, elas se esvaziem de significado. “Sustentabilidade”. Pois, dirão os minimamente argutos, o que é que isso quer dizer, afinal? O grande tráfego da expressão no léxico comum, nos últimos anos, terá contribuído de forma decisiva para certo esgotamento semântico. “Hoje, a sustentabilidade tem que ver com um conceito mais global, está em tudo. Não se trata apenas de sustentabilidade ambiental, mas também social e de governança das instituições”, explica Inês Sequeira, directora da Casa do Impacto. No fundo, uma forma de agir global, que se aplica à sociedade como um todo.

A instituição aberta em 8 de Outubro de 2018, por iniciativa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), acolherá, nesta quinta-feira, 30 de Junho, a conferência Social Good Week, sob o mote “Como apoiar o ecossistema de empreendedorismo nacional para o tornar a referência europeia de impacto?”, que contará com a presença do provedor da SCML, bem como de Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa. E, passados quase quatro anos desde a criação, prepara-se, precisamente, para conhecer um novo fôlego como um lugar a partir do qual conceitos como inovação e empreendedorismo de impacto positivo alastram à sociedade como um todo. A ambição é agora maior.

A Casa do Impacto quer deixar de ser identificada apenas como um óptimo local para albergar jovens com ambição de criar modelos de negócio centrados em impactos sociais e ambientais favoráveis. E pretende ver o seu sucesso medido pela influência positiva e pelo alcance de uma “abordagem holística” aos problemas encontrados. Ou seja, trabalhar para uma visão integrada dos principais desafios inerentes à convivência em sociedade. O que significa passar a ser visto, não apenas como local de encubação de “start ups” com essas preocupações, mas como sítio onde se encontram as melhores soluções para os desafios.

Inês Sequeira é a directora da Casa do Impacto desde a sua abertura, em Outubro de 2018

“É certo que temos aqui empresas e mantemos relações com muitas outras. Mas não somos apenas uma paragem no percurso dos empreendedores, já não somos apenas uma incubadora de ideias com impacto positivo. Queremos ajudar a que este novo paradigma seja transversal à sociedade, democratizando a inovação com impacto”, explica Inês Sequeira ao Artéria, antecipando aquela que será a nova etapa da Casa do Impacto.

A sustentabilidade é para toda a gente

Por estes dias, a responsável demonstra particular empenho em fazer passar o conceito de sustentabilidade para a sociedade como um todo. E isso inclui o coração da administração pública. “Estamos a criar uma marca de demonstra que somos especialista em sustentabilidade e queremos ajudar as instituições a mudar. Vamos auxiliar a administração pública a transitar para o novo paradigma, bem como as empresas”, assegura.

Um passo visto como natural, tendo em que conta a evolução sentida na sociedade. A forma como, por um lado, se lida com os problema de cariz social e ambiental e, por outro, como as empresas podem desempenhar um papel nessa missão são assuntos agora vistos de uma forma diferente. Por toda a gente.

Apesar de, desde o momento em que abriu portas no Convento de São Pedro de Alcântara, a entidade criada pela Santa Casa se ter focado nos 17 objectivos do desenvolvimento sustentável definidos pelas Nações Unidas – entre os quais se encontra a erradicação da pobreza, a igualdade de género ou a acção climática -, a forma de lidar com tais assuntos era então vista de uma forma algo distinta.

“Tivemos algumas dificuldades. O empreendedorismo social era entendido como algo muito institucional. Por isso, começámos a explicar que os diferentes problemas podiam ser tratados também como negócios e não apenas através de uma perspectiva assistencialista. Passados quatro anos, toda a gente percebe isto”, diz a responsável.

Inês Sequeira salienta a inevitabilidade do avanço para um paradigma mais escrupuloso ao nível dos valores, tanto por parte das empresas como das entidades públicas. Nem que seja por imposição da legislação comunitária. Mas também porque um número crescente de pessoas assim o exige. Muitas até se despedem dos trabalhos por não concordarem com a postura ética das entidades patronais. “À medida que vamos evoluindo, as necessidades mudam. Somos mais exigentes, já não se trata só de um salário”.

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